domingo, 22 de maio de 2011

Ser inesquecível

Foto: arquivo particular
Montagem: Scrapee.net





Neste domingo, fiz um passeio diferente. Em pensamento, voltei ao passado a busca de arquivos dos momentos que vivi ao lado de minha inesquecível avó materna.




Se conosco ainda estivesse, hoje, comemoraríamos seus 105 anos. Entretanto, mesmo “ausente”, sempre será memória viva para todos nós, ligados a ela por vínculos de sangue ou sociais.




Mainha – forma como seus netos a chamavam – era uma pessoa adorável, caridosa, compreensiva e, sobretudo, honesta, trabalhadora e inteligente. Autodidata, aprendeu a ler sozinha e entendia dos mais diferentes assuntos. Órfã de mãe (aos dois anos de idade), na pré-adolescência, tomou a iniciativa de estudar de madrugada, naturalmente, sem o conhecimento de sua malvada madrasta. Esta, por mais de uma década, além de lhe infligir maus-tratos e forçá-la a realizar todo o trabalho doméstico, ainda não permitia que fosse à escola a fim de que pudesse ficar em casa, em período integral, para cuidar dos seus meios-irmãos. Naquela época, se a mulher aprendesse o suficiente para ler uma receita de bolo, já estaria de bom tamanho a sua instrução. Para livrar-se desse “regime”, ela casou-se, aos 15 anos, e mudou-se.




Na infância e em parte da minha adolescência, todas as manhãs, eu era sua companhia, enquanto todos saíam para trabalhar. Através desse convívio, ela auxiliou meus pais na minha formação. Com ela aprendi, por exemplo, a cozinhar, a amar o Criador – íamos à missa juntas e ela lia a História Sagrada para mim –, a valorizar as pequenas coisas e a economizar se quisesse conseguir as grandes. Também me ensinou palavras e expressões mágicas: por favor, muito obrigada, desculpe-me, perdoe-me, os cumprimentos, entre tantos outros saberes tão pouco conhecidos ou usados atualmente e que são fundamentais para quem tem disposição firme e constante de transformar-se em uma pessoa virtuosa. Com este ser aprendi, na prática, o significado de respeito, educação e ética que me transformaram na pessoa que sou. Ah! O ensino da gratidão (cada vez mais caindo em desuso nos dias atuais) também fez parte de suas lições de vida.




Depois de três décadas de sua partida, seus ensinamentos e seu exemplo continuam bem vivos. Sou eternamente grata a ela por esta herança de valor incalculável que deixou não só para mim, mas para toda a sua descendência.

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Um comentário:

Anônimo disse...

E faz muito bem reverenciá-la, Josselene. Eu também tive as minhas "mainhas" em minha vida. Chamavam-se "Cândidas". Eram doces e, com elas, aprendi muito. E, como bem disse você, elas nos ensinavam o que era bom e o que iria nos servir no futuro.
Abraço,s
Raí